Sabe? Eu gosto da sensação de fome. Qualquer um acharia
loucura, mas eu gosto de sentir o estomago vazio, é como se a sensação de força
de me manter sem comida mesmo com meu corpo necessitando me trouxesse a
satisfação de estar no controle, a compensação de que, se nada mais der certo,
algo já deu, por mais um dia eu consegui me controlar.
É estranho eu sei, mas para mim é algo bom, de certa forma.
Acho que é isso o que as pessoas julgam ser doentio, acho que é isso o que
incomoda as pessoas, “como pode alguém ficar feliz em sentir fome?” A verdade é
que é exatamente isso mesmo. Felicidade. A felicidade de saber que sou eu quem
manda em mim, e não uma necessidade fisiológica idiota, a felicidade de saber
que a fome de certa forma é o retorno, o retorno que vem junto com a beleza,
com a perfeição.
Ao contrário da fome, a sensação de saciedade sempre me traz
tristeza, uma tristeza que de qualquer forma eu tenho que “por pra fora”. Comer
quase sempre me faz chorar. É algo meio irônico. A sensação de estar comendo é
algo prazeroso inicialmente, tão prazeroso que eu simplesmente não consigo
parar. Quase sempre começa por um pedacinho, de qualquer coisa que eu estou com
muita vontade de comer, continua por mais um pedacinho e em seguida continua
por que eu preciso sentir mais, mais desse prazer.
É quase como o prazer que o estômago vazio me dá, com a
diferença que vem sem mau estar, sem dor de cabeça, sem tonturas ou enjoo, vem
sem “efeitos colaterais” instantâneos. Mas como todo prazer, este também tem o
seu “efeito colateral”, só que este vem depois. Eu estou comendo, e comer me
traz compensação também, e por não conseguir parar de sentir este prazer eu
como e como e como, mas chega um momento em que o descontrole é tão grande que eu
fico triste, triste por ter me descontrolado, e eu como mais ainda pensando em
tampar esta dor.
Mas as compulsões sempre terminam no “apenas preciso me
sentir cheia”, é o último estágio. Depois dos efeitos da vontade, do prazer, da
saciedade, vem a necessidade de sentir que não cabe mais nada no meu estomago,
e nesse momento eu posso comer qualquer coisa, qualquer uma mesmo, até o que eu
não gosto de comer, simplesmente por “encher”. E depois de estar cheia e a dor
não passar, tudo o que eu preciso é coloca-la para fora, como se a comida
levasse com ela a dor.
Porém, quando tudo termina, a dor persiste. Ela sempre
persiste. E é por isso que eu prefiro me manter “limpa”. Porque não existe um
meio termo, ou é tudo, ou é nada, e de qualquer forma, não vai passar mesmo,
nada disso vai fazer parar a dor então, de que realmente importa? Nada importa.
Eu não me importo, e não é como se alguém fosse se importar por mim.
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